terça-feira, 21 de abril de 2009

Ócio do Ofício

Terça-feira, 21 de Abril de 2009. A chuva na janela e o conforto do meu cobertor quase não me deixam acordar. Após uma noite de trabalho tenso percorrendo pontos de venda e consumo de crack em Salvador, o celular me despertava por volta das 7 horas. Relutei por alguns minutos, mas o dever me chamava novamente e não permitia nem mais um segundo de sono. Tomei um banho rápido, engoli um pedaço de pão com café e segui para o trabalho.

As ruas vazias me davam a impressão de que a cidade ainda dormia e que, apenas eu, um jornalista, havia acordado. Ao chegar na TV, procurei disposição para enfrentar dez horas de plantão. Tudo isso a menos de três dias da minha tão sonhada formatura. Os colegas de trabalho, também jornalistas, aproveitaram a oportunidade para uma brincadeira. “Será que realmente há motivos para se comemorar uma graduação em jornalismo?”, “Olha onde estamos em pleno feriado!”.

Confesso que, por mais apaixonado que eu seja pela profissão, me fiz as mesmas perguntas. Ganhamos relativamente pouco, trabalhamos relativamente muito e não somos devidamente reconhecidos. Mas afinal, o que tanto encanta e fascina nesta profissão? O que me dá “N” motivos para comemorar na próxima sexta-feira?

É simples! Modéstia a parte, classifico o jornalista como os olhos do mundo. Aquele que vê, ouve, cheira e porque não, sente, para depois repassar o fato. Aquele que tem o dever de esclarecer, informar e alertar a população, comprometido com a ética e a verdade.

Enfim, podem me chamar de louco, apaixonado e até mesmo utópico, mas o que não me faltam são motivos para comemorar a minha formatura. Irei continuar trabalhando muito, ganhando pouco e acordando cedo, com a esperança de um dia ser reconhecido pelo verdadeiro valor do jornalista. O importante é fazer o que ama...

6 comentários:

  1. Ok Brunão! Você está no caminho certo, mas apenas no início do caminho. Os anos irão fazer você se questionar inúmeras vezes. Quando tiver sua própria família, irá se culpar por passar o Natal longe de casa, ou ser o último a chegar pra ceia de Ano Novo, quando provavalmente todos estarão dormindo e você terá rompido a meia-noite em meio a uma multidão de estranhos, cumprindo pauta. A cada matéria mutilada na edição, por falta de espaço ou tempo, a cada vez que presenciar uma tragédia e sentir a sua impotência diante do sofrimento alheio. Envolver-se com a notícia, aliás, é um hábito perigoso e pode trazer grandes sequelas. Mas às vezes é inevitável. Como não se emocionar diante de uma mãe que enterra a própria filha, ou de uma família que vê sua vida ser engolida por um deslizamento de terra? Com o tempo, já não choramos mais, encaramos com naturalidade essas situações, por vezes, quando paramos pra pensar, nos sentimos verdadeiros abutres, mensageiros da desgraça alheia. Mas nosso grande desafio é não desistir de acreditar, resistir ao ditado segundo o qual "notícia boa não é notícia". É ver o milagre da vida num bebê que escapa de um acidente catastrófico, e fazer chegar à maior quantidade de gente possível, a alegria de crianças que passam seus dias em hospitais, com câncer e outras doenças, e ainda têm um sorriso para oferecer. Muitas vezes, um simples "muito obrigado" de alguém que, mesmo indiretamente, você tenha ajudado, numa matéria de serviço ou denúncia, propiciando a ele um atendimento que não poderia ter ou que levaria meses para conseguir. Tudo isso nos faz refletir sobre a nossa verdadeira função. Com o tempo, ficamos cansados, as pautas sem repetem de uma tal forma que nem vale a pena contar. Mas se a cada nova matéria conseguimos motivação para escrevê-las de forma diferente e levar ao público alguma informação que faça diferença, já teremos justificado nosso (baixo) salário. No fim, é como um casamento. A paixão do início vai se diluindo, já não temos tanto desejo em estar com o outro, mas se a cada crise ainda resta forças pra recomeçar, é porque o amor está vivo. Que seja assim com você o jornalismo. Parabéns, boa sorte e conte sempre comigo!

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  2. Depois desse texto de Alan fica difícil falar mais alguma coisa, ainda mais sendo uma recém formada como você. No fim das contas chegamos à conclusão de que nossa profissão é mesmo uma deliciosa "cachaça". Acho que você, assim como eu e nossos diversos colegas, não conseguimos nos imaginar fazendo outra coisa. E cá entre nós é bom demais né? Na falta de imaginação para falar mais sobre nossa lida diária nesse final de expediente, em pleno feriado, vai aí um textinho que acho bastante apropriado...

    "Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."

    Gabriel Garcia Marquez

    Parabéns jornalista!

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  3. Bru..acredito que suas palavras sintetizem o pensamento de muitos jovens, como eu e vc,e como muitos que enfretam a labuta diária de fazer o que gostam, de tornar o dia-a-dia uma rotina incansável e sermos meros sonhadores quando se carrega a certeza de que sempre vale a pena continuar sonhando.

    Parabéns garoto pelo seu dia...seu texto reflete hoje minha ansiedade para a graduação que irá se concretizar daqui a um mês..parabéns,por carregar consigo os mesmos valores que já me traspareceu, as mesmas idéias que já foram trocadas no "Pântano" entre uma cerveja e outra...ah..e parabéns pelos textos abaixo que fiz questão de ler..seja pela forma simples de explicitar que nossa cultura de massa é pífia e que não se ama como antigamente..ou que talvez as notícias tenham mudado de enquadramento. É isso garoto..estarei ligada aqui viu!! Um grande Beijo Jornalista!! "Comunicação não é aquilo que você diz, mas sim, aquilo que os outros entendem" (Goethe)

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  4. belo texto e belos pensamentos....
    voce merece chegar aonde vc chegou...
    porém merece ir ainda mais longe...
    abracos

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  5. Nossa! Depois de tantos comentários belíssimos me resta dizer que esta árdua batalha vale a pena... Afinal de contas, não passaríamos 4 ou 5 anos na faculdade se este não fosse nosso sonho. Não gastaríamos tanto $ para comemorar a formatura, se não tivéssemos a certeza que valeu a pena. E não perderíamos noites ganhando tão pouco se não amássemos esta profissão. Com todos os problemas, nos resta a esperança (como você mesmo disse) de um dia ser reconhecido por tudo que fazemos com tanto amor. Boa sorte em sua jornada! E parabéns!!!

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  6. Mesmo muito pirada com sua cara...eu não consigo deixar de te amar e vou comentar no seu blog!
    Entendo os argumentos que surgem em relação à sua vida profissional, mas muitos recém formados também estão passando por esse momento. Aliás, esses conflitos fazem parte da nossa vida, começando pela escolha da profissão. Tenho certeza que você vai sempre se destacar no que fizer porque DEUS tem o melhor para você!Lembre-se de que é escolhido...Acredito na sua capacidade e sei que vem muita coisa boa ai pela frente, o que não deve ser feito é se acomodar.Beijos estarei torcendo pela sua vitória e o que precisar...pode contar comigo!

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